domingo, 17 de outubro de 2010

Liberdade

O calçadão da Avenida Beira Mar em Fortaleza é um verdadeiro celeiro de histórias. Lá estou eu dando minha voltinha costumeira de domingo, quando percebo um pequeno grupo de cinco homens praticando uma arte marcial no anfiteatro.









Confesso que a primeira coisa a me chamar a atenção foram as vestes, além de diferentes, estilosas! Fui me aproximando e aos poucos estava envolvida pelo sorriso de um jovem senhor: Eloisio Pinheiro Peixoto, um dos professores do grupo No Wa Ai Dojo. Assisti a apresentação e ao final, me aproximei timidamente para conhecer melhor aquele sorriso!


“Minha jovem, passei três anos da minha vida numa guerrilha em busca da liberdade e quando encontrei o Aikido, entendi que não precisava brigar com ninguém, porque a liberdade está dentro de nós mesmos”, é dessa forma que o nosso papo começa. O sorriso que me encantou se tratava de um homem filho de agricultores, nascido em Jaguaribe, que no início dos anos 70 quando jovem estudante do curso de Física, tornou-se guerrilheiro do Pc do B, “éramos eu, um engenheiro e uma filha de latifundiário que representávamos a base no meio da Serra Grande, divisa dos estado do Ceará e do Piauí”.


Imaginem!! Três anos no meio de uma serra, guiados pelo livro Vietnã: guerrilha por dentro e com a missão de entre outras coisas, aprender a sobreviver em situações adversas, manusear as armas mais comuns e a cavar túneis. “Plantávamos e caçávamos para nós mesmos, mas, de vez em quando um líder do partido aparecia e nos dava um auxílio para comprarmos mantimentos como sal e açúcar. Eu ia de burro até a cidadezinha de São Miguel do Tapuiu para fazer essas compras”.


Chegado o momento de caça aos guerrilheiros, o nome e foto de Eloisio foram anunciados pela Polícia Federal no Jornal Nacional e ele pegou uma carona até São Paulo, onde morou por treze anos e onde conheceu o Aikido, “nesse período trabalhei como clandestino numa fábrica e fiz outros trabalhos sem registro porque não queria ser preso e o Aikido me ajudou muito a manter o equilíbrio”. Contou-me ainda que casou e voltou ao Ceará depois dessa temporada na capital paulista.


Em Fortaleza, sofreu um sério acidente que o deixou em coma por um certo tempo. Nos seis meses seguintes se movimentava com a ajuda de uma cadeira de rodas e moletas. Passou por uma depressão e buscou tratamento através da biodança, psicoterapia e claro, o Aikido, “mesmo forçando a perna e com muita dificuldade, eu dava as aulas, nunca desisti do Aikido pois ele me fazia olhar para dentro de mim e encontrar minhas forças, minha energia”.


Eloisio até hoje pratica o Aikido, dá aulas diariamente e todos os domingos está no anfiteatro demonstrando e divulgando o seu trabalho junto com outros professores e alunos os quais se reúnem no Wai Ai Dojo - Rua João Cordeiro, 1534 - Casa 16 - Tel: (85) 3082 2960.





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